quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O pianista e eu!


O pianista e eu!
 

Garçom! O de sempre....

Olho ao meu redor enquanto espero meu drink sentado no bar.
Quase que incógnito, o pianista solitário, dedilha uma linda canção.

No salão, casais conversando, trocando promessas de amor.
Alguns com os braços estendidos sobre a mesa, mãos sobrepostas.
Outros numa troca de olhares que nenhuma frase poderia exprimir o que sentiam.

O drink chega, me distraio com o tilintar dos cubos de gelo no whisky.
Sorvo um gole, o primeiro do dia e da espera da chegada dela. Sim, ela.
Olho distante a mesa reservada para nós dois. Aconchegante e discreta, como ela.

Passeio meus olhos na entrada do piano bar. A recepcionista entretida com os clientes que acabam de chegar. Passa os dedos na lista de reserva e os conduz à mesa destinada. Acompanho o trajeto. De mãos dadas, o casal segue a recepcionista, ele na frente, ela meio que escondida logo atrás. Aguardando a chegada, o maitre e dois garçons. Parece um cerimonial, um ritual de amor. Os garçons puxam as cadeiras para o casal sentar-se quase que sincronizados. O maitre logo após, com suave e profissional atitude, posta o menu à direita de cada um.

Sorvo mais um gole. Esse mais longo. Meus lábios tocam nos gelos. Meus dedos ficam frios como o copo. Novamente, olho para a recepção. Desta vez, vazia. Ninguém chegou. Dou uma olhadinha discreta para o relógio. Trinta minutos do combinado horário já se passaram. Penso comigo "coisas de mulher".

Garçom! Mais um. O de sempre.
Revejo as mesas com os casais. Já até me parecem familiares. E lá, na minha mesa reservada, ainda vazia, imagino-a lindamente vestida, com uma postura cheia de realeza. Não haveria ser de outra forma. Afinal, ela, minha rainha.

Trocado o copo, sorvo mais um gole. Percebo a recepcionista me olhando com um ar preocupado. Ela sabe quem espero. Somos um casal conhecido. A pontualidade dela é conhecida por todos. E eu que sempre chego uma hora antes também é sabido.

Parece que o relógio me aperta o pulso e confiro novamente as horas. Uma hora e meio já se passou.

Garçom traga-me o telefone, por favor.
Chama e ninguém responde. Bom, penso eu, está a caminho. Percebo aos poucos meus pseudos conhecidos casais irem embora. Aos poucos, o salão torna-se mais imenso. Sorvo mais gole, e o drink se acaba novamente.

Garçom! Mais um.

Olho para a prateleira espelhada e me dou conta que já decorei todas as marcas e posições de cada garrafa. Atrás delas, vejo meu reflexo um tanto quanto perplexo. Sorvo mais um gole.

Ao longe, noto o pianista solitário. Não cansa de tocar a mesma canção. Ele sabe quanto a amo. A canção e ela. Sorvo mais gole. Noto, agora, o salão vazio. Minha mesa intacta, amordaçada, chorando em profundo desespero nossa ausência.

Garçom! O último, por favor.
Convido o pianista a compartilhar comigo este derradeiro drink.
Bebemos juntos num silêncio absurdamente profundo.
Nós dois, os solitários desta noite.

O pianista e eu.


Jorge LCF Lennon ®

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